Culpa (Théo Drummond)
Culpa
(Théo Drummond)
Será culpa, talvez, dos teus olhos azuis
o fato de te olharem como se o teu rosto
fosse de uma beleza tão cheia de luz,
radiosa como o dia, antes do sol posto.
Será culpa, talvez, do andar que reproduz
teu passo, que não vai onde te seja imposto;
o deixares de lado tudo o que seduz
e nem te permitires o menor desgosto.
Será culpa, talvez, da minha inconseqüência,
deixando que a ilusão de que possa mudar-te
para tornar-te igual a tantas que conheço,
que me faça ficar nesta insana insistência
de querer transformar-te qual se fosses parte
do que fui, do que sou, de tudo o que pareço.
Em 100 Sonetos/Théo Drummond, Caravansarai Editora Ltda.,
Rio de Janeiro (RJ) Brasil, 2006, pág. 26.