Categoria: Mário de Sá Carneiro (Portugal)
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Postado por LeMaziero no dia 24 de novembro de 2018 às 1:22:38 PM
Marcadores: Mário de Sá Carneiro (Portugal) / POEMAS DE TEMÁTICA MITOLÓGICA, LENDÁRIA, HISTÓRICA E RELIGIOSA (Português)
Cântico II
(Cecília Meireles)
Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontens...
Não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabe que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
é a passagem que se continua.
É a tua eternidade...
É a eternidade.
És tu.
De que são feitos os dias?
(Cecília Meireles)
De que são feitos os dias?
- De pequenos desejos,
vagarosas saudades,
silenciosas lembranças.
Entre mágoas sombrias,
momentâneos lampejos:
vagas felicidades,
inatuais esperanças.
De loucuras, de crimes,
de pecados, de glórias,
- do medo que encadeia
todas essas mudanças.
Dentro deles vivemos,
dentro deles choramos,
em duros desenlaces
e em sinistras alianças...
Oração da noite
(Cecília Meireles)
Trabalhei, sem revoltas nem cansaços,
no infecundo amargor da solitude:
as dores, — embalei-as nos meus braços,
como alguém que embalasse a juventude...
Acendi luzes, desdobrando espaços,
aos olhos sem bondade ou sem virtude;
consolei mágoas, tédios e fracassos
e fiz, a todos, todo o bem que pude!
Que o sonho deite bênçãos de ramagens
e névoas soltas de distância e ausência
na minha alma, que nunca foi feliz.
Escondendo-me as tácitas voragens
de males que me deram, sem consciência,
pelos míseros bens que sempre fiz!...
Chuva
(Flora Figueiredo)
A escurecida repentina
no telhado do andar de cima
anuncia chuva,
prenuncia vento.
Deve vir tormenta de verão
com seu sistema lava-a-jato.
Quando o mundo já pronto,
lavado, perfumado,
for dar o nó no sapato,
vem um brilho de sol
para o lustro final.
A harmonia da Terra há de ser tal,
que o dia entardecendo,
vai terminar em sinfonia.
Bem-te-vendo.
Comunicado
(Flora Figueiredo)
Só por hoje vou rasgar os códigos.
Desacato as regras, os preços módicos.
Só por hoje desacredito das retas,
descarrilho do trilho, desvio das setas.
Preciso de tempo pra sonhar,
respirar fundo e carregar na mão o sal da vida
e o mel do mundo.
Se o compromisso tocar a campainha,
peço que aguarde na casa vizinha,
mansamente, sem fazer alarde.
Mas comunico a todos pela imprensa
que sumiu a lucidez.
Pediu licença.
É só por hoje, mas agora é minha vez.
Insubordinação
(Flora Figueiredo)
Questione-se o método,
a regra,
o convencionado.
Que a ordem da cartilha se corrompa,
que se curvem o juízo e a razão,
que se rompa o que ficou estipulado.
Afinal, não é preciso que um botão
permaneça o tempo todo abotoado.
Leva-e-traz
(Flora Figueiredo)
Quando a palmeira balança segredos,
vale a pena escutá-la.
O vento lhe traz notícias frescas todo dia.
Quem foi que disse que vento não fala?
Meta
(Flora Figueiredo)
Não quero mais sonetos
para perpetuar
meus descaminhos.
Nem quero saber
onde foi se perder
minha estrela cadente.
Não quero gravetos
a sinalizar
os lugares por onde eu andar.
Vou dissipar os rastros
e dispensar os astros.
A luz é lá na frente.
Não quero voltar.
Pontuação
(Flora Figueiredo)
Adormeci nas reticências da vida,
enquanto meditava tempos.
Aconcheguei-me nas dobras do vento,
onde a sombra tricota interrogação.
Não sei se me quedei assim vencido
por obra do cansaço, ou covardia,
recém-saído que vinha
da galeria do herói arrependido.
Às vezes despertando
para olhar na fresta da suspeita,
quando a visão se esforça,
(mas somente estreita),
tentando vislumbrar um movimento.
Hoje parece que vem um sol boiando lento,
querendo aportar em minha lassidão.
A vida reticente que me dê licença,
mas o brilho é forte, a tentação imensa,
desvisto o escuro,
descasco o vazio,
abraço o futuro.
Embarco num ponto de exclamação!
Rotação
(Flora Figueiredo)
Roda mundo, roda vida, roda vento.
Passa tudo, passa tanto, passa tempo.
Rodopiam as cores
na eterna reticência do momento.
Entre uma volta e outra do destino,
continuo apenas um menino
a soprar meu gira-sonho como um catavento.
Vida
(Flora Figueiredo)
Na dúvida, faça.
O risco faz parte.
A graça está
em tentar,
em vez de sentar e assistir;
a vida está
em esticar-se todo pra atingir;
o mundo está
no desafio da interrogação.
E por que não?
Entre na festa,
arranque a capa,
morda a maçã.
Desate o cinto
para voar livre pelo amanhã,
ainda que ele seja um labirinto.
Deixe o id rolar
nessa arte viva de arriscar,
cônscio e devoto.
Pois que viver
não é entrar no mar onde dá pé,
mas mergulhar com fé no maremoto.
Última Página
(Flora Figueiredo)
Mais uma vez o tempo me assusta.
Passa afobado pelo meu dia,
atropela minha hora,
despreza minha agenda.
Corre prepotente
a disputar lugar com a ventania.
O tempo envelhece e não se emenda.
Deveria haver algum decreto
que obrigasse o tempo a desacelerar
e a respeitar meu projeto.
Só assim, eu daria conta
dos livros que vão se empilhando,
das melodias que estão me aguardando,
das saudades que venho sentindo,
das verdades que eu ando mentindo,
das promessas que venho esquecendo,
dos impulsos que sigo contendo,
dos prazeres que chegam partindo,
dos receios que partem, voltando.
Agora, que redijo a página final,
percebo o tanto de caminho percorrido
ao impulso da hora que vai me acelerando.
Apesar do tempo e sua pressa desleal,
agradeço a Deus por ter vivido,
amanhecer e continuar teimando.
Alegria de viver
(Helena Kolody)
Amo a vida.
Fascina-me o mistério de existir.
Quero viver a magia
de cada instante,
embriagar-me de alegria.
Que importa a nuvem no horizonte,
chuva de amanhã?
Hoje o sol inunda o meu dia.
Correnteza
(Helena Kolody)
Reflexo n’água corrente,
já não sou mais quem fui ontem.
Logo serei diferente
cada momento acrescenta
e subtrai o existente.
Efêmera
(Helena Kolody)
A inexpressiva multidão dos anos
passou, anônima e apressada.
Afinal, eu vivi,
ou sonhei que vivi?
Fio d’água
(Helena Kolody)
Não quero ser o grande rio caudaloso
que figura nos mapas.
Quero ser o cristalino fio d’água
que canta e murmura na mata silenciosa.
Itinerário
(Helena Kolody)
Entre a escura pergunta
que antecede o amanhecer
e a penumbra de mistério
velando a face da noite
caminhamos num vislumbre de sol
pela urgência do tempo.
Nunca e sempre
(Helena Kolody)
Sempre cheguei tarde
ou cedo demais.
Não vi a felicidade acontecer.
Nunca floresceram
em minha primavera
as rosas que sonhei colher.
Mas, sempre os passarinhos
cantaram
e fizeram ninhos
pelos beirais
do meu viver.
Otimismo
(Helena Kolody)
De espinheiros agressivos
plantei sebes.
Deram flores.
Juntei às pedras mais rudes
muita argamassa de dores.
Fui erguendo a fortaleza
invencível.
Pus em meu céu um sorriso.
Mesmo em borrascas de pranto,
a escala de sete cores
brilha em mim.
Passado presente
(Helena Kolody)
Ilusório regressar,
pelos caminhos de agora,
aos dias que se apagaram.
O rosto de ontem mudou.
Lugar que foi, não é mais.
O viver é diferente.
Somente em nós, tudo existe
e não se extingue jamais.
Tempo guardado em lembranças,
a saudade nos devolve
todo o presente de outrora.
Presença
(Helena Kolody)
Coragem de andar
sobre os precipícios
sem desfalecer,
entre labaredas,
mas não se queimar,
com os violentos
e os indiferentes,
no mundo inimigo,
sem deixar de amar.
Retorno
(Helena Kolody)
Voltando em busca de mim
encontrei-me diferente
quase desconhecida.
(Porém a luz recolhida,
era a minha alma de sempre.)
Sobe a enchente
(Helena Kolody)
Sobe a enchente devagar,
alicerces solapando...
O que vai desmoronando,
logo as águas vão levar.
Tantas coisas, tão amadas,
rumo ao nada vão boiando...
Trilha batida
(Helena Kolody)
Em todos os caminhos,
vestígios de outros passos.
A própria voz se perde
no vozear imenso.
Há muito, alguém pensou
os nossos pensamentos.
Só existe um refúgio,
uma posse,
um domínio defendido:
o profundo de nós mesmos,
singular
e indevassável.
Viagem Infinita
(Helena Kolody)
Estou sempre em viagem.
O mundo é a paisagem
que me atinge
de passagem.
Desmistificação
(Olga Savary)
Não sou um ser macio
como a água distraída
sem um som em que me apóie
na lâmina dos ventos
ou do vago rumor entre duas ondas;
não sou um ser gentil, dizia,
sou uma guerreira.
Enquanto
(Olga Savary)
Sou inconstante como o vento
sou inconstante como a vaga
por isso fica
enquanto estou desvelada
enquanto eu não for
vento ou vaga.
Quero apenas
(Olga Savary)
Além de mim, quero apenas
essa tranqüilidade de campos de flores
e este gesto impreciso
recompondo a infância.
Além de mim
- e entre mim e meu deserto -
quero apenas silêncio,
cúmplice absoluto do meu verso,
tecendo a teia do vestígio
com cuidado de aranha.
As inundações causadas por fortes chuvas na região de El Destino, na Argentina, trouxeram a tona um fenômeno que os habitantes da região não esperavam.
Milhares de aranhas começaram a aparecer e a trabalhar incansavelmente na produção de teias em áreas altas.
Enfrentei a vida
(Yedda Lamounier)
Pode ser bem comum esta história.
Corriqueira até, mesmo banal.
Mas, a vida em sua trajetória,
deixou-me n’alma fundo sinal.
Não foi pra ela nenhuma glória.
— Pois sou sensível como um cristal...
Reforcei porém sua vitória
talvez por ser tão sentimental.
Mas, um dia, a enfrentei com desdém.
Desde então, todo o bem que ela risca,
— são apenas rabiscos de giz.
Soube nela me impor muito bem.
Corajosa, repudio a isca,
conseguindo também ser feliz.
Eu e a vida
(Yedda Lamounier)
Não temas companheira, — enfrenta a vida.
Gargalhando com ela até o fim.
Eu também era assim, tão retraída,
quase um fantoche em suas mãos, enfim.
Hoje ela me respeita convencida,
que entre nós duas será sempre assim:
— se acaso me vencer numa partida,
— na certa perderá, outra pra mim.
E quando persistente me ignora,
eu lhe armo de tocaia uma emboscada,
antecipando o golpe que ela gosta.
Adversária pertinaz, embora,
seguimos, — uma à outra, acorrentada.
— Galgando juntas sempre, a mesma encosta.
Mãe
(Yedda Lamounier)
Por entre os atropelos desta vida,
na voragem de sonho e dissabor,
a verdadeira mãe, despercebida,
sabe sanar tão bem nosso amargor.
Muitas vezes por nós vive esquecida,
neste vale de lágrimas e dor.
Mas está sempre pronta, desprendida,
quando nós precisamos seu amor.
E vai ao nosso lado procurando,
amenizar feliz, nosso caminho.
Assim, vamos seguindo, sem notar,
que as suas mãos bondosas vão sangrando,
arrancando, sorrindo, cada espinho,
que possa por acaso nos magoar.
In memoriam
Alma Schildt Ebert
★ 29/07/1912
† 04/01/2005
Olá, visitantes!
À Flor da Pele - Poesia e Arte foi criado com a finalidade de compartilhar minha paixão por poesias e literatura. Publicarei poesias e outros gêneros literários, ilustrados com imagens, formatados por mim, nos idiomas português (Brasil), português (Portugal), espanhol (América Latina e espanhol (Espanha).
Os textos completos são extraídos de livros do meu acervo pessoal (respeitando a linguagem da época) e/ou enviados pelos autores, sem erros ou falsas autorias com a referência bibliográfica completa.
As imagens são retiradas da internet.
Caso haja restrição ao uso de alguma, favor entrar em contato.
Obrigada pela visita! Lenice Ebert Maziero
Ser
(Adélia Maria Woellner)
Hoje sou
conseqüência e resultado
dos fatos da vida,
dos sentimentos que guardei,
das decisões que tomei,
dos caminhos que escolhi,
dos atos que pratiquei.
Aprendiz
(Adélia Maria Woellner)
Nasci de outras terras,
vermelhas como a cor do sol
da tarde
anunciando estiagem.
Foi longa e árida
a viagem.
Pés crestados
na terra partida,
ressequida
de húmus e de vida.
Porém, sobrevivi...
Nasci de outras águas,
fecundada fui
no encontro das ondas com os rochedos.
Por isso,
cresci sem medos,
mas parti os lábios
no sal e no sol.
Não pude sorrir,
porém, sobrevivi...
Surgi de outros ventos.
Fui gerada em tufões,
mas nasci do ventre da brisa.
Rodopiei em rodamoinhos
e fustiguei folhas, flores e frutos.
Provei sabores
doces e amargos...
Corri mundos e não pude parar.
Cansei,
mas sobrevivi...
Apareci assim,
de repente,
como salamandra entusiasmada.
Vesti-me de cor e calor,
lambi a casca da madeira seca
e enxuguei o tronco úmido de lágrimas.
Fogo incontrolado,
querendo alcançar o céu,
queimei e me consumi,
vendo meu pranto arder ao léu.
Mesmo assim,
sobrevivi...
Agora, sou como sou.
Estou reaprendendo a viver.
Atavismo
(Adélia Maria Woellner)
Bebi
da água límpida,
pura,
do poço
cavado no barranco,
paredes bordadas
com verdes e macias avencas.
O frescor
da infância,
enfeitada de arco-íris,
dança em minh’alma
e me ensina
a viver melhor.
Retorno II
(Adélia Maria Woellner)
Caminho no tempo
e repercorro meus próprios passos.
Percebo que fiz
e desfiz
tantos laços,
em meio a lágrimas
e abraços.
Revivo alegrias,
dores e cansaços...
Não importa;
é a caminhada inevitável
para o próprio encontro.
É a andança
no rumo da certeza
de abrir porões
e redescobrir,
em cada renovada manhã,
o conhecido sabor primitivo
de pitangas, guabirobas e romãs...
Revelação II
(Adélia Maria Woellner) )
Atenta aos encantos
do jardim de magias,
abandonei-me no tempo,
diluí-me no espaço.
Fiz-me roseira,
só para compreender
que os espinhos no caule
são escada
para alcançar a flor.
Amor próprio
(Ivone Boechat)
O pensamento é um barco à deriva,
solto nas ondas da vida,
procurando a luz farol,
quando se balançam preconceitos,
cada qual rima do seu jeito,
seguindo o calor do próprio sol.
As nuvens da dúvida, da
desistência, da incerteza, desorientam,
o medo, às vezes, seduz...
Não! Deixe que brilhe mais forte
a sua luz,
segue em frente,
não reme na direção da morte,
não se atole nessa lama interior,
seja você mesmo,
para viver a experiência mais forte,
do seu próprio amor.
Estilo de Vida
(Ivone Boechat)
Eu não coleciono fracassos
para chorar à noite,
na sombra da amargura,
nem quero morrer de tédio,
acumulando o fel
de erros e acusações.
Prefiro ir.
Escolhi a verdade,
mesmo com açoite,
a infinita ternura,
o abraço dado,
sem qualquer censura,
a ventura de fluir.
Quero seguir em frente,
sem olhar pra traz,
prefiro decidir com fé,
e concluir,
todo o meu projeto de vida,
de cabeça erguida,
de pé.
Ser Mulher
(Ivone Boechat)
Cada pétala da flor de sua vida
é um capítulo de experiências
que não se repetem,
mas nada passou!
Este perfume
é a memória nunca perdida
dos dias e pessoas que você amou.
Colhe a flor, conserve-a,
ame os espinhos também,
eles são despertador
para você acordar,
valorizando tudo o que você tem.
A quarta sinfonia da vida
(©rosangelaSgoldoni)
Do que fui
não me sobrou qualquer inocência;
farpas e lascas, convalescênças;
lamentos, tristezas ou reclamações.
Construí pontes em alagadiços,
percorri distâncias em meio a conflitos,
despi-me dos laços esfarrapados.
Meu tempo vivia de adiamentos...
Hoje vive de calendários!
A cada dia um novo passo,
a cada passo um novo compasso
em tempos de reger o quarto movimento da
grande sinfonia da vida!
Voo de Maturidade
(©rosangelaSgoldoni)
A juventude passou distraída.
Sentia-se confortável
acolhida nos braços da eternidade.
Despertou maturidade
atrelada a alguns esboços e projetos.
Seu olhar ainda se traduzia
em feixes de curiosidade.
Antes que se perdesse do tempo,
entregou-se ao vento das possibilidades.
Reencontrou-se em horizontes sem limites.
Perfume da Alma
(Guida Linhares)
Por tantas veredas caminhei,
entre flores coloridas e perfumadas,
colhidas logo cedo, ainda orvalhadas.
E as pedras encontradas no caminho,
não foram desprezadas, se tornando lição
meditada na derrama da noite em solidão.
Tudo valeu pela intensidade vivida,
por ter sempre um escudo amoroso,
na passagem do tempo, em cada pouso.
Eis-me aqui, alma em aprendizado,
cujo perfume ainda se revela inconstante,
em processo de metamorfose ambulante.
Mas haverá um tempo, não sei quando,
em que desvelada a sutil fragrância,
a alma vagará liberta de qualquer circunstância.
Plenitude
(Da Costa e Silva)
É um mar meu coração:
o sentimento de beleza,
em idéia e emoção,
é que lhe dá profundeza...
É um céu meu coração:
o sentimento de bondade,
em amor e perdão,
é que lhe dá imensidade...
Vou Agora Sonhar...
(Da Costa e Silva)
A minha vida, sempre inquieta como o mar,
é de renúncia, sacrifício e desencanto:
enquanto vão e vêm as ondas do meu pranto,
estende-se o horizonte, além do meu olhar...
Na imensidade azul fico a cismar, enquanto,
a refletir o céu, vai se acalmando o mar...
Acalma-se também minha dor, por encanto:
— já cansei de sofrer! Vou agora sonhar...
Rastros
(Ronaldo Cunha Lima)
Eu só sei de onde venho.
O resto é o arraso de meu rastro
em busca de aventura.
É esperança e procura
do que eu me lembro e me esqueço,
do que perdi no começo
da estrada por onde andei.
Eu só sei de onde venho:
venho do azul de meus sonhos.
Para onde vou, eu não sei.
Durante
(Basilina Pereira)
Não sei se quero chegar,
acho que gosto mais
das surpresas do caminho.
Redemoinho
(Basilina Pereira)
Um vento rebelde sopra palavras de todas as cores,
descasca os acordes no viés da tarde
e respinga respostas sem berço e sem eco,
neste descampado onde as perguntas
ainda esperam para nascer.
Quero canalizar esses sons na retina,
emoldurá-los na raiz do sentimento
e depois (quem sabe)
replantá-los num viveiro de poesia.
E quando o sol me chamar mais uma vez à janela,
talvez eu possa acreditar nessa luz que me aquece,
nos pingos que desenham o arco-íris
e entender o sentido de tantas coisas
que ainda vagam à procura do ninho.
A águia
(Théo Drummond)
A águia sabe o momento de parar:
arranca as penas gastas e, paciente,
aguarda que outras cresçam, no lugar,
para enfrentar os ares, novamente.
Não há nada mais belo do que o voar
da águia, de asas abertas, imponente.
Lá das alturas fica a procurar
o que precisa, pra que se alimente.
Trocar as velhas penas é entender
que a gente pode, mesmo com saudade,
ser feliz mesmo quando envelhecer.
E ao voltar a voar, sempre à vontade,
de alma nova, voltar a perceber,
que quem faz nosso vôo é a nossa idade.
Metamorfosis
(Eulina Pereira de Araújo)
Yo soñé
yo sentí
yo no era más yo
yo era todo-nada
me maté
me enterre
en la planície verde
en una tumba blanca
sueños y ilusiones esfumados.
Metamorfoseada acordé
afuera soy nada-todo
yo estoy rica de mí
reclutandome
yo existo
estoy tan yo
que no entro en el infinito.
Vivir
(Rinaldo Leite)
Vivir no puede esperar
vivir la vida ahora
es contemplar la aurora
es ver el sol acostarse.
Vivir es no llorar las cruces
que tenemos para llevar
es descobrir un mar de luces
y ser una más brillando.
Lo que señala una vida
no es la fama ni la gloria;
lo que no será olvidade
es la construcción de una historia.
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